Diagnóstico das insuficiências da infraestrutura latino-americana (Série: 2/3)
ENERGIA
A infraestrutura de energia tem se saído bem, com mais de 95% dos domicílios com acesso à eletricidade. Além disso, a eletricidade tem o potencial de se tornar uma das vantagens competitivas da região, pois é uma das mais limpas do mundo (baseada em hidrelétricas). No geral, o acesso à eletricidade está acima da média em comparação com outros países em desenvolvimento, onde o acesso é de cerca de 85%. Entretanto, nas áreas rurais, o acesso permanece desafiador, com mais de metade dos desassistidos concentrados em Guatemala, Peru e Haiti.
Os países da América Latina precisam de atenção especial à diversificação de suas fontes de energia para enfrentar a crescente incerteza das precipitações causadas pelas mudanças climáticas e a pressão adicional de grupos de defesa que buscam energias alternativas. Como resultado, a região tem visto um rápido crescimento na energia solar, com países como Argentina, Brasil, Chile e Peru implementando usinas de energia. Da mesma forma, os investimentos na produção de energia eólica em terra têm crescido desde 2008, principalmente no Brasil, Chile, México e Peru.
TRANSPORTES
A infraestrutura de transportes é talvez uma das maiores insuficiências da região. Segundo a The Economist, a América Latina carece de uma rede de transportes densa, acentuada pela baixa densidade populacional na região; além disso, sua densidade de estradas pavimentadas é bastante baixa, assim como a qualidade das estradas existentes. Não obstante, o transporte urbano se sai um pouco melhor. Durante as últimas décadas, foram feitos investimentos significativos em sistemas de transporte público em grande escala, especialmente nas cidades mais densamente povoadas, a maioria das quais agora possui vários modos de transporte público. Um exemplo é o sistema de metrô de Medellín, que oferece uma opção de transporte público eficiente para uma das cidades mais populadas da Colômbia. O sistema de metrô na capital do Chile, Santiago, também se destaca por sua extensão (140 km de extensão com 136 estações), infraestrutura moderna e um público anual de mais de 670 milhões de usuários. No entanto, mesmo nas cidades onde existem sistemas de transporte, há desafios com congestionamentos e falta de acessibilidade devido ao aumento acentuado da população nos centros urbanos.
Figura 3 – Mapa do metrô de Santiago
Os aeroportos também estão aquém. Historicamente, os aeroportos da região eram melhores do que os de outras regiões em desenvolvimento, mas ficaram para trás devido à falta de investimento para expandir e modernizar os aeroportos, e ao aumento na demanda de passageiros trazida por uma crescente classe média. No Brasil houve um enorme aumento no tráfego aeroportuário; o Aeroporto de Guarulhos/SP, por exemplo, deverá aumentar sua capacidade de 30 para 60 milhões de passageiros até 2025 (com necessidades de investimentos estimadas em mais de R$ 20 bilhões) para acompanhar a crescente demanda.
Os portos mostraram alguma melhora, conforme evidenciado por uma maior conectividade às redes de transporte marítimo global. O índice de conectividade de transporte de contêineres de 2020 da Conferência das Nações Unidas sobre Transporte e Desenvolvimento indica que o porto de Manzanillo no Panamá, o porto de Cartagena na Colômbia e o porto de Manzanillo no México se destacam em termos de conectividade multimodal. No entanto, o Banco Mundial apontou que, para que os portos aumentem sua competitividade, as estradas de acesso precisariam aumentar cerca de 15% dentro de 50 km dos portos na próxima década para acompanhar os volumes de comércio regionais esperados.
Quando se trata da integração de diferentes modos de transporte, especialmente ferroviário e rodoviário, a América Latina enfrenta desafios tremendos que diminuem sua competitividade na logística. No geral, as estatísticas mostram que as estradas e portos na região melhoraram marginalmente na última década, e as ferrovias não melhoraram, colocando-as no mesmo nível da África subsaariana. Segundo a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe [da ONU]), a América Latina tem aproximadamente 76 mil km de trilhos para uma área de 20 milhões de km, e a África tem 84 mil km de trilhos para uma área de 30 milhões de quilômetros. A Argentina possui a maior rede ferroviária da região, com quase 37 mil km, enquanto o Brasil, apesar de ser o maior país da região, possui cerca de 30 mil km de trilhos (dos quais 9 mil estão fora de operação devido à falta de manutenção e um abandono geral desse modal).
TELECOM
Em termos de infraestrutura digital, melhorias foram feitas, mas a região continua enfrentando restrições de oferta e demanda para alcançar uma transformação digital completa. A divisão digital na América Latina é palpável, com a maioria de sua população rural sem acesso à internet. Países como Cuba, Nicarágua e Guatemala têm números particularmente baixos em termos de cobertura de serviços móveis e conectividade de banda larga. A necessidade de uma melhor conectividade tornou-se rapidamente uma questão premente na região após a pandemia de COVID-19 aumentar a demanda por melhor acesso à internet e cobertura mais ampla para quem trabalha em casa. É imperativo que os países da América Latina invistam em redes 5G, redes privadas, centros de dados e fibras ópticas para expandir a conectividade para áreas rurais. Em 2021, Brasil, México, Chile, Colômbia e República Dominicana estabeleceram sua intenção de adotar a tecnologia 5G, mas isso exigirá altos custos de capital inicial e investimentos sustentados em infraestrutura fixa em terrenos desafiadores, como as montanhas dos Andes e as florestas tropicais.
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