Como financiar a infraestrutura na América Latina? (Série: 3/3)
BELT & ROAD
Nesse contexto, a quais entidades seria possível recorrer para obter financiamento? Ao longo da última década, muitos países da América Latina recorreram à iniciativa “Belt and Road” da China. Os exportadores latino-americanos viram oportunidades de se beneficiarem de uma maior conectividade, com redução de esperas e de custos logísticos. Segundo especialistas, ela também poderia aumentar as exportações agrícolas, mineradoras e manufatureiras de 1 para 8% em pelo menos 5 países da região. Para aproveitar esses benefícios, a América Latina deve focar nas implicações para o setor de infraestrutura. Países como o Chile já estão explorando sinergias com o setor privado para desenvolver projetos de infraestrutura, como evidenciado pelo acordo de cooperação entre o China Railway Group Limited e o desenvolvedor chileno Sigdo Koppers.
A China vem se demonstrando como uma fonte notável de investimentos na região. A The Economist relatou que, em 2018, os bancos chineses investiram mais na infraestrutura da América Latina do que o Banco Mundial. Segundo a CEPAL, esse financiamento foi fornecido principalmente pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Eximbank chinês. Em 2017, por exemplo, empresas chinesas investiram cerca de US$ 21 bilhões no Brasil, e a Bolívia desenvolveu uma linha de crédito com a China de cerca de US$ 10 bilhões para gastar em represas hidrelétricas e estradas. No geral, o crescimento do gigante asiático na América Latina tem aumentado significativamente desde 2000.
Figura 4 – Estoque de investimento chinês direto na América Latina (em US$ bi)
Fonte: Brookings Institution (2018).
Dito isso, a recente desaceleração econômica da China limitará os recursos disponíveis para compromissos com a política externa do país, o que poderia deixar a América Latina com investimentos em infraestrutura mais limitados.
PGII
Para contrapor a presença chinesa na região, a presidência dos EUA enviou delegações à Colômbia, Panamá e Equador para discutir a iniciativa de investimento em infraestrutura global “Build Back Better World”. Isso poderia ajudar a catalisar projetos de desenvolvimento de infraestrutura muito necessários e investimentos em setores como tecnologias de comunicação. Além disso, os Estados Unidos fazem parte da Partnership for Global Infrastructure and Investment (PGII), um esforço do G7 para colaborar no financiamento de projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento (e uma resposta dos países membros à iniciativa da China com o Belt & Road).
MULTILATERAIS
Os bancos multilaterais também têm se provado altamente relevantes como fontes de financiamento aos projetos de infraestrutura na região. Os países latino-americanos recorreram ao Banco Mundial, BID, CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) e CABEI (Banco Centro-Americano de Integração Econômica) para grande parte das suas necessidades de empréstimos. Embora o estoque de dívida multilateral tenha crescido em termos reais, esse crescimento não foi linear ao longo do tempo. Segundo a CEPAL, a dívida multilateral cresceu a uma taxa de 1,8%/ano até 2003, mas os estoques de dívida diminuíram até 2007 antes de aumentarem novamente a partir 2008 (quando a crise financeira global criou uma demanda por dívida multilateral). No entanto, em relação à dívida privada, a dívida multilateral diminuiu na região. Além disso, melhorias nas condições macroeconômicas da região e baixas taxas de juros desde 2010 levaram a um aumento dos empréstimos bancários comerciais para o setor público.
Figura 5 – Financiamentos aprovados por banco multilateral, média móvel de 3 anos (em US$ milhões com data-base 2015)
Fonte: CEPAL (2019).
PPP
Como a América Latina pode alcançar essas melhorias? No passado, a maioria dos países da região recorreu a parcerias público-privadas (PPPs) para investimentos em infraestrutura. Em 2021, os países latino-americanos garantiram mais de US$ 18,6 bilhões em 56 projetos de investidores privados, tornando-se a região com o segundo maior compromisso de investimento em infraestrutura. Em 2021, o Brasil recebeu US$ 15,7 bilhões de compromissos de investimento privado em 36 projetos, o que representa 84% das PPPs da região para aquele ano.
CONCLUSÃO
Em suma, a infraestrutura da América Latina não está em consonância com o crescimento sustentado da sua população de classe média e suas expectativas de crescimento econômico. Investir em infraestrutura é essencial para o crescimento econômico da região, para reduzir a desigualdade e para alcançar a sustentabilidade. Então, como a região pode avançar? A região tem um potencial tremendo, especialmente dada sua experiência em PPPs. A América Latina tem os meios para melhorar sua infraestrutura, mas primeiro deve trabalhar na priorização de suas necessidades e objetivos de investimento, na melhoria da eficiência dos gastos públicos e na atração de financiamento eficaz e econômico por meio de parcerias transparentes e empréstimos comerciais locais ou internacionais. Fazendo isso, poderá gerar uma alocação de recursos mais estratégica para alcançar um nível de infraestrutura capaz de contribuir com o seu crescimento econômico sustentável.
Com informações de Wilson Center.
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