Por que a BlackRock está investindo maciçamente em infraestrutura?
A demanda por investimentos em infraestrutura está em alta, e isso aparentemente se deve à descarbonização, digitalização e desglobalização. Larry Fink, o chefão da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, acredita que estamos prestes a ver uma verdadeira revolução na infraestrutura global. A previsão otimista foi feita um pouco depois de anunciar que sua empresa compraria a Global Infrastructure Partners (GIP), por uma quantia considerável, diga-se de passagem – US$ 12,5 bilhões, para ser mais exato. A GIP, liderada por Adebayo Ogunlesi, é o terceiro maior investidor em infraestrutura do mundo, ficando atrás apenas da Macquarie (australiana) e da Brookfield (canadense). Eles têm uma variedade enorme de ativos, que vão desde o Aeroporto de Gatwick (Londres), até o Porto de Melbourne (Austrália). Com essa aquisição, Ogunlesi e sua turma se tornarão o segundo maior grupo de acionistas da BlackRock.
PANORAMA
Outras empresas também estão de olho nesse setor. Em janeiro, a General Atlantic, uma firma de private equity (PE), confirmou que iria adquirir a Actis, focada em infraestrutura nos mercados emergentes. E em setembro, a CVC (outro fundo de PE), anunciou que estava comprando a DIF, uma investidora de infraestrutura holandesa. Na última década, os ativos sob gestão por fundos de infraestrutura aumentaram quase 5x, atingindo a marca de US$ 1,3 trilhão, de acordo com a Preqin (uma provedora de dados). E não é à toa que fundos de pensão e administradores de fundos soberanos estão de olho nesse setor, dado o padrão de retornos atraentes e relativamente estáveis. Na verdade, mais da metade desses investidores pesquisados planejavam aumentar a fatia de seus portfólios alocada em infraestrutura. Então, por que tanto entusiasmo?
O cenário dos investimentos em infraestrutura começou a ganhar força nas décadas de 1990 e 2000. Naquele tempo, os governos ocidentais, diante de crescentes dívidas, começaram a buscar investidores privados para adquirir e revitalizar infraestruturas já desgastadas, desde aeroportos e ferrovias até sistemas de saneamento. Mais tarde, uma ampla gama de empresas, desde fornecedores de energia até operadoras de telecomunicações, também passaram a recorrer aos investidores em infraestrutura para se desfazer de ativos como oleodutos e torres de celulares.
Hoje em dia, a demanda por investimentos em infraestrutura está em ascensão, impulsionada por três megatendências.
TENDÊNCIAS
A primeira é a descarbonização. Para atingir as metas climáticas globais, estima-se que sejam necessários investimentos na ordem de US$ 8 trilhões até o final desta década, destinados à energia renovável, como solar e eólica, além de baterias para armazenamento de energia e linhas de transmissão para sua distribuição. Além disso, serão necessários grandes investimentos em infraestrutura de hidrogênio para produzir combustíveis sem emissões de carbono para aviões e navios.
A segunda megatendência é a digitalização. Apesar de ouvirmos falar que o software está revolucionando o mundo, isso depende fortemente de uma vasta infraestrutura física, desde cabos de fibra óptica e redes 5G até centros de dados.
Por fim, temos a desglobalização como a terceira tendência. Os esforços para diversificar as cadeias de suprimentos, especialmente afastando-as da China, estão aumentando a demanda por novas fábricas e infraestruturas de transporte, tanto terrestres quanto marítimas. Na Europa, as preocupações com a segurança energética, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, também estão impulsionando investimentos em terminais de gás natural liquefeito, para garantir o abastecimento de lugares menos suscetíveis a conflitos.
PERSPECTIVA
Atualmente, estamos testemunhando uma forte demanda por investimentos em um momento em que os governos e as empresas enfrentam pressões significativas em seus balanços. Nos Estados Unidos, por exemplo, a pilha de dívidas do governo federal já atinge US$ 26 trilhões, representando 98% do PIB, e espera-se que continue crescendo na próxima década. Na Europa, muitos governos também estão lidando com pesados fardos de dívidas. Além disso, as taxas de juros mais altas estão tornando o pagamento dessas obrigações mais custoso e estão criando desafios para empresas que recorreram a dívidas baratas para aumentar os retornos aos acionistas. Como resultado, a necessidade de desalavancagem limitará a capacidade dessas entidades de fazer grandes investimentos nos próximos anos. Diante desse cenário, os investidores em infraestrutura estão prontos e dispostos a preencher essa lacuna. Em 2022, por exemplo, a Intel, uma grande fabricante de chips, buscou financiamento junto à Brookfield para construir uma nova fábrica de chips de US$ 30 bilhões nos EUA. Até agora, a maioria dos investidores em infraestrutura tem se concentrado nos países desenvolvidos, onde os governos são considerados mais confiáveis e as moedas mais estáveis. De acordo com dados da Preqin, mais de 80% dos ativos sob gestão no setor estão alocados em mercados ocidentais.
No entanto, a demanda por nova infraestrutura é particularmente urgente nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, e mais ainda nos mercados onde tanto as populações quanto as economias estão crescendo mais rapidamente. Um dos cofundadores da GIP, Raj Rao, afirmou que o investimento em mercados emergentes representa uma grande oportunidade para eles. No mesmo sentido, Leigh Harrison, que lidera os investimentos em infraestrutura na Macquarie, observou que sua empresa está aumentando a parcela de seus fundos alocados nos mercados emergentes. Vale notar que, em um cenário de dívidas mais caras, a maneira como os investidores em infraestrutura obtêm lucros está mudando, passando de uma abordagem baseada em engenharia financeira para uma gestão mais eficiente dos ativos.
Com dados de The Economist.
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